sábado, dezembro 25, 2004

quero passar um dia inteiro com você. assim: eu te encontro em algum lugar, a gente toma um café e eu brinco com as suas mãos, e mexo nos seus lábios e me embabaco toda com seu jeito meigo. depois a gente pega um filme desses de gente inteligente e assiste. deitamos juntas num colchão qualquer e ficamos ali. eu faço pipoca, você faz biscoitos e compramos uma barra inteira de chocolate meio amargo, um pote inteiro de sorvete para nós duas.
depois do filme, te curtir. te curtir um monte, tocar em você, conversarmos e dormirmos abraçadas com sem nenhum sexo, sem nenhuma sacanagem dessas que estou acostumada. só fingir que posso te decifrar aos poucos apesar de saber que, eternamente, serás a garotinha que nunca entenderei.
fox.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

momento lírico

Encontros e Despedidas
M. Nascimento E F. Brant


Mande notícias do mundo de lá

Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

E assim, chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida.

m - não se importando muito para a novela e lembrando de uma antiga canção que ele sempre gostou.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

autobiografia IV

talvez você se assuste com esse meu jeito de te olhar aos poucos. deve achar que te analiso devagar, que estou montando um mapa na minha cabeça, que estou querendo alguma coisa, avaliando alguma coisa, esperando alguma reação sua. talvez não esteja acostumada nem nunca se acostume com minha mania de te tocar inteira: os cabelos que viro e reviro em seu rosto, sua bochecha, sua boca, sua orelha, seu braço que eu mordo de vez em quando, cada um dos seus dedos que eu toco levemente, a palma de sua mão, seus pés.
não, não te analiso. te curto e curto cada momento em que estou ao seu lado. te curto o tempo todo, me encanto com as mesmas coisas de sempre e me embriago de olhar pra você.
medo? não, não tenho medo do que você pensa. não tenho medo de parecer grudenta, mesquinha, possessiva. te curtir vale a pena. me encantar vale a pena. me fascinar com você é o que eu faço sem a menor carga de medo.

fox.

sábado, dezembro 11, 2004

autobiografia III

perdi o último ônibus da madrugada. pensei em ligar para alguém e dormir em uma cama quente. não tenho coragem. são três da manhã e faz muito frio aqui fora.
puxei um cigarro e fumei deitado no banco.
"não pode deitar no banco" disse o guarda e eu levantei. Ele fez uma cara de não posso fazer nada, mas não me importava tanto assim dormir naquele momento.
O vento frio vinha do sul e acho que foi por causa dele e do frio que ele trazia, por causa da sua força e empenho em levar embora a nuvem negra que cobria a noite, que eu vi a lua - uma lua gigante que ocupava o céu.
o ônibus passou por mim cheio de olhares vagos, perdidos e não parou. agora me sinto bem por não tê-lo pego. essa sonolência, essa melancolia são sentimentos difíceis de se ter aqui nessa cidade enorme. esse ar solitário, esse cigarro entre meus dedos parece me fazer voltar ao passado. no passado, as pessoas se olhavam no olho. não havia pessoas sem nome. desconfio que não havia ônibus, nem madrugada, nem melancolia nesse meu passado. também não havia guardas e os bancos eram feitos mais para deitar do que para sentar. não havia, porém, liberdade essa de sentar no banco e fumar na madrugada, de perder o ônibus, de não ver as pessoas por dentro.
esse último pensamento me confortou e foi nesse momento ou um pouco antes que começou a chover densamente e eu derreti.
por um momento eu era aquela lua e descobri que não só ela ocupava o céu, mas os raios que emanavam dela iluminavam - meia-luz - o mundo todo e eu pude ver sorrisos, abraços, espaços vazios e uma multidão cega e surda. pude ver pessoas sem nome andando pelos espaços do mundo. pude descobrir seu maior medo que é o de serem descobertas por dentro. soube vê-las por dentro naquele instante - segundos, minutos talvez - e compreendi que eu era grande e que, na minha grande tristeza de ser eu, posso ter meu brilho noturno e enxergar esses todos que estão dentro dos corpos densos e dos olhares vagos andando pelo mundo todo.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

resumo da semana

se um dia eu acordasse no meio da noite assustada com um certo sonho intranqüilo, olhasse para o lado e te visse dormindo tranquilamente um sono de respiraçãoc pesada com certeza eu teria inveja de você.
se não conseguisse mais dormir, horas intermináveis, lodosas e lentas, se eu não pudesse ter paz e seu ronco leve trespassasse minhas veias, talvez eu tivesse um súbito desgosto de viver, porque existe um espaço, uma fenda que separa nós duas e que é ocasionada pelo seu sono e pelos meus olhos que não mais te vêem, mas projetam você em você e você vira projeção, uma imagem minha que está onde você está e que faz o que você faz. entende?
assim: se você se virasse em minha direção, o rosto doce de anjo, e me acariciasse leve, mãos dançantes e quentes, eu provavelmente não te sentiria, porque você é uma imagem que eu faço de você e seu carinho é uma idealização que faço do seu carinho.
no dia seguinte eu estaria com espessas olheiras de veludo e você, leve seda, se espreguiçaria devagar e me beijaria de leve. talvez me desse um bom dia, mas logo você passaria a manhã e a tarde fora e esse verão, e esse calor me sufocariam até a noite, quando novamente eu imaginaria você chegando e atravessando a fenda por alguns segundos.
fox.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

domingo, dezembro 05, 2004

porquês

se queres mesmo saber por que estou com você agora, preciso te dizer muitas coisas. é difícil explicar: te amo desde a primeira vez que te vi. sério. como é sério para mim procurar não dar tantos sentidos para a minha existência. tenho medo de te dizer isso porque sei que tens medo de ouvir essa palavra amor assim tão de perto.
se queres saber porque eu amo você, é ainda mais difícil, mas, por gostar do difícil, quero dizer que primeiro eu me encantei por seu jeito ali parada no banco abrindo o que parecia ser uma barra de chocolate.
depois foram muitas as coisas que me encantaram em você, e tive tempo de saborear aos poucos esse meu amor que para mim seria sempre perdido: o jeito doce e meigo com o qual você olha para as pessoas, seu sorriso largo, suas mãos dançantes, suas carinhas, seu abraço, sua mania de me divertir dançando comigo pelos bares, sua perspicácia de jogadora de xadrez, seu jeito todo seu de amar de longe.

fox.