segunda-feira, fevereiro 28, 2005

o fim da primavera

conto de fadas dolorido

debrucei-me. era uma flor tão linda que larguei minha sensação de pieguice para vê-la. ela era rosada e, se olhasse bem para dentro dela poderia jurar que tinha olhos verdes. eu cantei uma canção e ela se balançou toda, fez festa e suas pétalas foram logo voando com a brisa, mas a brisa não tinha.
cantei mais: canções de amor, canções de feridas que não cicatrizam, canções tristes (meu pensamento só faz canções tristes) que eu inventei ali, na hora. a flor se mostrava toda e dançava só pra mim. cantei para ela até anoitecer, então fui embora.
no outro dia, não parava de pensar nela, no momento em que iria vê-la de novo. não é que me apaixonara? amava o jeito como ela dançava no ar, se sacudindo toda... o rosto com gotinhas de orvalho que ela mostrava... seu charme.
não queria pensar muito na flor. medo de que ela fosse embora, medo de que ela morresse, de que murchasse ou que seus espinhos me ferissem ou ainda que alguém a arrancasse e a levasse pra longe. não queria tirá-la de lá, mas não queria que ninguém mexesse nela.
"talvez eu não devesse mais vê-la" foi o que eu pensei já há uma quadra de onde ela estaria. menino bobo menino bobo.
fiquei tão confuso que acabei decidindo que não deveria me entregar aos meus medos, pois eles são tudo o que eu sempre detestei. eu cantei mais e mais canções. a flor ouvia e se emocionava. eu ficava feliz de estar me entregando para a flor, porque ela merecia tudo o que eu tinha, porque eu a amava cada vez mais.
não foi aos poucos que me joguei, porque a flor era tudo em que eu pensava era aquilo que eu mais amava. fui logo de cabeça. mergulhei no rio, um rio de prata tão bonito que tinha uma lua dentro. e estrelas saltitantes, tremelicadas pelos meus movimentos na água. era assim que eu me sentia, num eterno banho noturno, os astros dançando em volta de mim. uma noite linda como aquelas de inverno com tudo limpinho. uma noite sem fim.
um dia, depois de cantar muito, na hora da despedida a flor disse que não queria que eu a visitasse no dia seguinte. fiquei desapontado, mas aceitei. voltaria apenas dois dias depois para cantar de novo pra ela.
os dias se passaram devagar, sofridos mesmo, como se eu não tivesse mais nada para fazer da minha vida, como se o sentido de tudo o que eu sou fosse cantar para ela, a flor rosada e meiga que dançava gostoso. a flor mágica que tranformava a escuridão dos meus dias em gotinhas de chuva brilhantes.
acordei feliz no dia em que eu ia cantar pra ela novamente, mas, ao sair de casa encontrei um bilhete. era a flor. hoje não podia. aceitei aquilo e pensei que talvez a flor não gostasse de mim, mas esperei como a gente mesmo tendo certeza da nota ruim na prova, espera a prova chegar.
no outro dia, uma nova mensagem e de novo deveria guardar minhas canções para mim mesmo. sabe como é a gente, eu já tive certeza de que a flor não queria mais me ver. quando realmente a vi ela disse que eu sou um bobo, que ela não vai embora, que ela gosta de mim também. fiquei tranqüilo e feliz e continuei cantando pra ela. de vez em quando ela me pedia para não aparecer. de vez em quando ela me chamava e não queria ficar perto de mim. isso doía tanto tanto tanto que eu tinha medo e estava me tornando um bobo com minhas paranóias de novo. tentei me controlar, mas era só a flor dar um sinal qualquer de desprezo e eu me sentia mal, já ia falando pra flor que ela não gostava de mim e que ela não queria mais minhas canções. a flor desmentia. que ela gostava de mim que ela me admirava e foi um pouco depois disso que ela me deixou. aquelas pétalas rosadas, aquela dança, aquele jeito cativante que ela tinha não fariam mais parte da minha vida.
foi assim como o fim da primavera, o começo de um tempo quente e morno sem hora pra acabar. uma dor tão grande que dormir ficou difícil, que tinha medo de sonhar, porque agora além dos pesadelos, podia sonhar com a flor e quando acordasse ela não estaria mais gostando de mim.
a dor é danada, dói que nem picada de formiga, mas é apertando o peito. Um choro, que nem uma torneira pingando que abre de repente sai dali de dentro.
e agora?
agora?
é esperar alguma coisa e aceitar a dor e a perda. agora é mar nervoso que um dia se acalma.

fox.

domingo, fevereiro 13, 2005

a noiva do meu amigo

é estranho. penso que fecho demais meus olhos. penso que fechar os olhos desse jeito é fugir do presente. penso querer fugir do presente neste exato momento e em outros vários momentos durante os dias. eles estão passando sem que eu os viva?
jogos. súbito descobri que tenho que parar de jogar comigo mesmo. mudar a realidade é diferente de aceitá-la. um dos dois eu não posso fazer.
tudo tão estranho. a gente sente coisas demais e pensa coisas demais. dizer para si mesmo que isso tem que cessar nem sempre adianta. como vai você? você é forte, mais forte do que eu. meu medo sempre foi o de você me derrubar, de eu criar cascas por causa disso. eu podia ter ido embora e não fui. escolhas que eu nunca faço: ir embora. agora é tudo estranho e preciso de uma lanterna para olhar para dentro de mim. preciso de uma lente, uma lupa. preciso parar de pensar em você.
um problema: as cascas, a queda, isso tudo sou eu que faço comigo. sequer posso te culpar ou ter raiva de você. já sentiu isso? sei que sim. não podemos sentir raiva dos que nos ferem, porque nós nos deixamos ferir na maioria das vezes. momentos de reflexão. tenho que ficar sozinho? tenho que escolher melhor meus amigos e amores. aceitar melhor essa coisa que você quer que aconteça: amizade entre uma pessoa que ama demais e outra que não se encontrou, apesar de não ser por isso que estou fora da sua vida. engraçado isso. realmente tenho que dar umas risadas às vezes. quem viu simplesmente amor conhece a história do homem que se apaixonou pela noiva do seu próprio amigo. engraçado pensar que devo estar sentindo a mais de um ano o mesmo que ele com uma única diferença: um é personagem, o outro é real.
preciso manter meus olhos abertos, não fugir da realidade, não enlouquecer.
fox

sábado, fevereiro 12, 2005

instantes de conformismo

Os primeiros pensamentos são sempre suicídio. o baralho na mão, as cartas expostas para mim. olho para ás de copas. lembranças... não passam agora de lembranças o gosto da boca que eu beijei, as mãos que dançavam a todo momento, os pés que eu acariciava e tentava adivinhar como seriam por trás das meias puxadas, o cheiro do cabelo e do corpo.
lembranças e vontades e desejos. nenhuma realização. agora o caminho é longo e o cigarro parece pecado. conformar-se é tudo o que parece necessário para mim, justo eu que odeio o conformismo. por isso tanto tempo será necessário para eu deixar de amar. por isso às vezes acordo chorando de noite e tenho ímpetos de ligar para você. olhos os espaços.. como em tão pouco tempo esses espaços foram ocupados e me lembram você?
droga, cara... que droga.

fox