segunda-feira, setembro 25, 2006

amnésia

conversa. ontem eu vivi uma vida inteira. só que esqueci de dormir. e fui esquecendo e fui esquecendo. esqueci da minha roupa azul, de tomar banho, de pentear o cabelo. esqueci de pensar e, por um segundo descobri o valor da minha ausência.
conversa. ontem foi uma noite de puro egoísmo.
ontem fui pelas ruas e ouvi os carros falarem do tempo. esqueci do tempo. esqueci de tudo.
me diverti com minha amnésia.
hoje sou um ser anônimo.
sempre fui.

segunda-feira, setembro 18, 2006

espelhos que neutralizam nada.

não que eu consiga ver um palmo além do meu nariz, mas ainda não entendo o que acontece comigo. não que eu entendesse mesmo na frente de um espelho, mas ainda acho que é apenas difícil sentir. a intuição funciona mais como um termômetro e não consigo medir muito bem algumas coisas. enquanto converso com você, na porta de sua casa, esqueço de tudo. depois penso em nada e em como nada fez falta quando se foi. ainda penso que teria medo ou vergonha ou receio de pensar/falar/tocar nada outra vez. ao me abandonar, vi que tinha pena de mim, desse meu amor cego pelo abrigo insensível do seu ser.
agora eu construí um outro eu e esse eu queria aparecer de alguma forma, mas acho que para nada, nada que venha de mim importa
[o que sugere um processo massivo de desconstruções aleatórias, na esperança de se produzir um ser que, de forma eficaz a atinja ou pelo menos um que seja indiferente à nada]

(a construção deste ser se dá em conversas de fim de noite, em que ele se perde em olhos enormes e azuis, ou em esverdeados olhos pequenos e estrábicos, ou ainda no profundo negro de uma nota musical).

terça-feira, setembro 05, 2006

'peça para alguém não ficar feliz'

não se engane com minha alegria, com meu sorriso brilhante, com minhas piadas. minha felicidade é fugaz e vivo um terço da vida imerso em tristeza e solidão. por isso não leio o que você escreve, por isso não te procuro mais. por isso fico roendo as unhas e tragando o meu tempo em rodelas de fumaça.
não se engane, às vezes perco a chave de casa e não tenho problemas em dormir na rua, uma garrafa de cachaça barata para passar o frio e uma pilha de jornais velhos que são difíceis de conseguir.
tenho insônias frequentemente e ouço repetidamente as músicas que me agoniam.
sou involuntariamente deprimido. involuntariamente apaixonado e possuído por desejos perversos.
não se engane. não vou mudar. por isso não tenho chances de reencontrar você, nem tenho motivos para te desejar tanto quanto te desejo. vou continuar longe e seco.