terça-feira, janeiro 30, 2007

montagem II

a cor da parede é sempre azul. não muda nunca. o ar murmura palavras desconfortáveis enquanto o tempo voa no escritório. as vozes dos outros falam mais alto que os pensamentos e até as teclas que eu preciso pressionar para externalizar esse quadro atrapalham seus personagens.
há mesas e cadeiras na sala. há um balcão, um telefone, duas atendentes e um supervisor. também existem livros e leitores que entram e saem. o telefone é estridente como um despertador. talvez seja muito útil depois do almoço, quando nosso organismo precisa descansar. o telefone é a prova do não-descanso.
os leitores são variáveis de todas as idades, tamanhos e gostos. as atendentes são novas. uma fica atrás do balcão todo o tempo enquanto a outra organiza os livros, as cadeiras e mesas, os jornais. percebe-se que ficam mais eufóricas na presença do supervisor, que, normalmente entra e sai muito rápido, sem fazer barulho. vez por outra dá pra perceber que elas precisam falar com ele. não, ele não se esquiva. apenas programa muito bem sua rotina a ponto de não deixar espaço, uma brecha que fosse para que elas lhe abordassem. no geral o clima muda significativamente depois de uma entrada do supervisor na sala. não dura seis minutos essa mudança. a rotina novamente estabelece a ordem do lugar.

dias dias dias dias meses meses meses meses meses meses meses mesesmeses meses meses mesesmeses meses meses mesesmeses meses meses meses anos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anosanos anos .............................................................................
....................................................................................
....................................................................................
....................................................................................
....................................................................................
....................................................................................

sábado, janeiro 27, 2007

(...)
de longe você parece uma princesa. e eu um homem comum. hoje eu desejei te ver. um café, nem que fosse no quiosque, no meio da rua. você e eu sendo empurrados pelo fluxo de pessoas que se deslocam da casa pro trabalho, do trabalho pro intervalo, do intervalo pro trabalho, do trabalho pra casa.
é como um friozinho na barriga. é como uma dor na cabeça que só te incomoda um pouco, que você acha que vai passar.
eu paro no terminal e espero passarem as pessoas. brancas, negras, amarelas. espero você num desespero pequeno e complexo. divido o banco com um bêbado. divido meus pensamentos com você e o almoço.
cigarros sim, porque não consigo mais esperar sem eles. tênis, calça jeans, um caderno, uma caneta e um óculos que eu nunca uso, mas que eu tento usar. eu e o céu. eu e o sol infernal de janeiro. eu e as gotículas de suor que escorrem da minha testa, da minha barriga, do meu pescoço.
eu e meus pensamentos. eu e a certeza de que você virá.
eu e a certeza de que algo vai mudar.
eu e você por exatos trinta minutos. não mais.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

"eu respiraria você, se você deixasse"
não faz um dia que eu te disse isso. é verdade, embora eu não soubesse antes de te dizer.
você ri. diz que é tóxica para ver se eu relaxo. mas aí, quando essa frase sai assim, meio sem jeito, já estou a ponto de chorar. você não percebe.
[porque perceberia?]
eu faço pipoca e olho a chuva bailar na janela. depois vou longe, perto de onde você está, só que alguns anos antes. ali, bem ali as coisas podiam ser
diferentes.

então eu te vejo sempre desanimada e lembro desse ponto. que além desse ponto tudo deveria ter sido diferente. aí eu lembro que ainda te desejo e faz tanto tempo... então é por isso que eu quero te respirar, te tragar para dentro do meu corpo.