terça-feira, agosto 30, 2005

... ete ricochete ricochete ricochete ricoch...

Um dia eu descobri: não estava mais caindo pelos cantos, com os olhos inchados de tanto chorar. E isso já fazia tempo. A mente apenas não tinha se acostumado com a nova e sutil mutação. O corpo já não andava cabisbaixo, a cabeça já não doía e os porres não eram mais para esquecer, e sim para extravazar uma estranha e sincera felicidade.
Então, um turbilhão de coisas começou a se encaixar e desencaixar na minha vida e isso teve a mesma importância que existe no cheiro de uma comida que eu nunca mais senti e do qual nem me esforço para tentar. O rumo que minha vida tomou, soou como ausência.
O vento faz rasantes acrobáticos na saia da minha casa, que fica à mostra. Os trovões urram gravemente por muitos minutos, e eu aqui, com um sorriso calmo, o rosto levemente amassado pelo sono, o corpo quente, a sensação de que nada está errado nesse exato momento.
É quando eu percebo. Você se foi e eu ainda te amo, mas isso não me machuca mais. É quando eu percebo que você pensa junto com outro como nunca pensaria comigo. Não sei o que dizer, pois o coração aperta, mas eu sinto que é só isso: um leve movimento de contração. Quando você volta e me sorri aqueles sorrisos que eu não entendo, eu quero te beijar, mas isso é simplesmente uma maneira de prolongar um passado não muito distante. Você, sem sutileza nenhuma, causou um estrago tão grande em mim, que não ousaria pensar em esperança. Não com você. E isso não me entristece. E isso não tira o sorriso de dentro de mim.
Você não passa de um espectro. Um pequeno fantasminha que se auto-sabota, que me usa assim como já deve ter usado tantos outros. Você é uma bolinha que quica na parede, ricocheteando na inércia que só se interrompe quando alguém resolve mudar seu mundo, sua ordenação. E eu, fui apenas mais uma pessoa que esteve no meio de suas maiores mudanças, que nada tiveram a ver comigo. Fui apenas a transição de dois caminhos que você poderia seguir. Sou apenas a pessoa que está entre um lado e outro das paredes.
fox

segunda-feira, agosto 08, 2005

sistemáticos efeitos

às vezes, no meio de um sonho, ou durante uma música qualquer, ou ainda no momento exato em que começo a sentir um arrepio ao perceber que existo em algum lugar neste mundo, encontro você.
às vezes isso acontece no meu pensamento, às vezes nos meus sonhos, às vezes você aparece do nada e me dá um susto, me chama de algum nome esquisito e me lembra das conversas demoradas que tínhamos de madrugada no quarto andar daquele prédio que foi nossa primeira casa alugada, nossa primeira tentativa de liberdade frustrada.
lembro bem do seu rostinho, lembro bem das suas caras e bocas e lembro de ser meiga com você (o fato é: me apaixonei por você, sua boba) por um tempo.
veio o dia em que você adquiriu o poder de fugir de mim, o dia em que você me disse que não gostava de mim, o dia em que eu enlouqueci e tentei morrer com gás de cozinha (mais um fato: eu estava louca por você, mas isso eu não queria admitir assim) e agora está chegando o momento em que estou me recompondo.
neste exato momento, alguém está começando a amar loucamente. neste exato momento, alguém se descobriu sozinho de novo, neste exato momento, alguém está fugindo e alguém está terminando um relacionamento e alguém conseguiu morrer pelo amor que sentia e um outro está pouco se importando para tudo isso.
o que eu quero é que o inverno nunca acabe.