quarta-feira, março 09, 2005

oi oi oi... que é que a velha árvore tem pra me dizer hoje? ela se diz sábia. a gente normalmente acredita nisso por causa dos estereótipos, tipo, toda árvore velha é sábia. é porque não sabem que árvore é como nós: vai envelhecendo, ficando meio gagá, encurtando mesmo a memória e repetindo que nem vitrola arranhada tudo o que já disse.
por outro lado, quanto mais velha uma árvore fica, mais linda, e era embaixo dela que eu e paula conversávamos coisas de bem querer. a árvore sorria um sorriso gostoso pra gente e era carregada de florezinhas amarelas. às vezes ela ria tão alto que sua copa lançava as folhas e as flores na gente. paula fazia festa com as flores na minha orelha. ela tinha um sorriso de abóbora que era engraçado. às vezes a árvore se intrometia nos nossos assuntos. paula dissimulava. se a árvore perguntava "quem foi?", paula já ia apontando pra mim com cara de brava "foi ela, foi ela, árvore" - dizia - "pega ela, vai!". Aí a arvore se abria toda e levantava um pouco suas raízes no ar.
Tínhamos preguiça as três. a árvore ainda tinha a desculpa de estar colada na terra, mas o que dizer de paula ou de mim? Chegamos um pouco depois do almoço naquela pequena floresta porque estávamos cansados e havíamos comido muito. comer muito dá sono, dá preguiça. resolvemos deitar e conhecemos a árvore, que se ofereceu para fazer sombra pra gente. paula riu abóbora e disse sim. não saímos mais. a tarde está indo, o sol já brilha. hora mágica, quando paula me olha mais séria e fica coladinha no meu pescoço. a árvore já estava dispensada do seu encargo de nos fazer sombra. agora estava com a gente apenas porque sim, nos envolvendo em longas histórias, nos alegrando com seu meigo jeito de nos ninar.
O sol se foi, a lua nasceu. não, por enquanto não sairíamos daquela grama gostosa, não deixaríamos de ouvir a musiquinha bonita que a árvore fazia, balançando suas folhas ao vento. não deixaríamos de nos olhar na luz de prata e sorrir uma para a outra. naquele momento, passaríamos a eternidade metamorfoseadas em lindas borboletas noturnas voando em torno da velha árvore, ouvindo suas histórias repetidas e gostosas contadas na voz rude que ela tem.

fox