quarta-feira, novembro 17, 2004

amores imperfeitos

Cuspi no tapete de entrada antes de entrar. A placa da frente dizia Maria Mendes - Psicóloga e estava escondida de uma de farmácia quando se passava por ela vindo da rua de cima.
A sala de espera era pequena mas bem ajeitada, toda moderninha. O ventilador estava desligado e fazia muito calor. Liguei. As revistas ou eram velhas ou eram horríveis e eu não havia trazido nada para ler ou para passar o tempo. Fumei um, dois, três cigarros antes de ser chamado pelo nome falso que dei pelo telefone.
Entrei. Um cheiro de esmalte adocicava o ar gelado da sua sala com uma grande mesa.
- Você?
- Oi. Vim te ver!
Acho que ela ficou chateada, pois levantou súbita, empinou o nariz e apontou para a rua.
- Fora daqui! Não te quero aqui. Não te quero...
- Não me quer mais?
Ela abaixou a cabeça - Sim.
- Escute aqui sua maldita cretina! Eu te amo, você nunca me ouviu porque tem essa cabecinha de merda que me enche o saco. Olha pra mim, olha nos meus olhos. Eu te amo. Te amo de verdade. Será que você não percebe? Não estou de brincadeira, nunca foi uma brincadeira para mim o que aconteceu entre a gente.
Ela me olhou firme por uns instantes. Achei que ela ia chorar, mas continuou firme.
- Tenho medo de você porque sabia que não podia te contar isso. Foi só eu falar que te amava e você fugiu. Fugiu e nunca mais apareceu e foi quase uma surpresa te encontrar aqui nesse lugarzinho minúsculo fazendo algo do qual você sequer entende. Eu deveria te odiar sua idiota! Eu deveria esticar essa minha mão aqui que te acariciou e te dar com ela na cara. Pro inferno você e esse seu medo imbecil. Pro inferno você e sua mania de rejeitar os outros.
Bati a porta e saí correndo sem olhar pra trás.

m.