sexta-feira, fevereiro 02, 2007

era um eu triste ali sentado no banco do jardim, entre crianças e balanços coloridos, entre risadas e folhas ao vento.
o olhar estava perdido perto de um antigo portão que o mundo esqueceu. no chão, um par de sapatos pequenos e um copo azul, desses com canudinho embutido. lembrança de um momento triste e solitário vivido por uma criança há dois minutos.
deixe-me explicar melhor: é muito triste, sabe, quando uma imagem torna-se sacra. foi sacra a fenda que se abriu naquele momento entre o portão, os sapatos e o copo de uma criança ausente.
então você chega. sei que você chega porque você canta uma canção - a sua canção - e senta-se ao meu lado, não muito perto. só o suficiente para eu te sentir, sentir o teu calor, a tua energia.
depois, sai em direção às crianças e me deixa um pouco desconcertado - não por causa da sua saída, ou melhor, também por causa da sua saída mas principalmente pelo que aconteceu depois.
existiu no depois um abismo e não entendi mais minha tristeza. demorou um tempo para eu entender que aquele eu triste tinha ido embora para dar lugar a um outro, no momento, desconhecido.